Sudestinos se rendem ao show de Mariah Carey em Belém

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Na quarta-feira (17), Belém viveu uma noite em que espetáculo, paisagem e simbologia se encontraram — e, de quebra, desarmaram críticas feitas de longe. O Amazônia Live, transmitido pela Globoplay e pelo Multishow, trouxe Mariah Carey para um palco flutuante em formato de vitória-régia montado sobre o furo do rio Guamá, no Combu, e reuniu quatro grandes vozes paraenses: Joelma, Gaby Amarantos, Dona Onete e Zaynara. O resultado foi um show que transformou desconfiança em admiração e colocou novamente Belém no centro das conversas culturais do país.

O episódio ganha força porque veio em um momento de intensa exposição da cidade — a preparação para a COP30 e a atenção nacional a problemas como preço da hospedagem e infraestrutura. Antes da apresentação, críticos e internautas — muitos vindos do Sudeste — postaram comentários duros, que em vários casos cruzaram a linha do preconceito e da xenofobia, questionando desde a capacidade logística da capital paraense até o próprio conceito do palco. As primeiras imagens do projeto cederam espaço a provocações sobre clima, mosquitos e “conforto” da artista.

Mas o que chegou à noite foi diferente. O palco, fiel ao projeto — uma vitória-régia imponente que flutuou no Guamá — recebeu elogios de quem estava no local e de quem acompanhou pela transmissão. Fontes e espectadores relataram que a estrutura ficou “idêntica ao planejamento” e que a cena, iluminada contra a paisagem ribeirinha, funcionou como cartão-postal e cenário perfeito para a união entre um megashow internacional e a cultura local.

Do ponto de vista artístico, a noite foi plural. Mariah Carey e as cantoras paraenses deram show, em momentos que destacaram tanto o repertório internacional quanto ritmos e timbres regionais. A presença de Joelma, Gaby Amarantos, Dona Onete e Zaynara não foi apenas simbólica: foi uma demonstração de que grandes produções podem dialogar com artistas regionais sem perder escala nem identidade. O concerto foi calorosamente recebido pelo público — inclusive por muitos visitantes do Sudeste que foram surpreendidos positivamente e repercutiram a apresentação nas redes sociais.

Nas plataformas digitais, o efeito foi potente: publicações que antes ironizavam a escolha de Belém como palco para grandes eventos passaram a registrar elogios, pedidos de desculpas e reconhecimentos. “Muita gente ‘quebrou a cara’ pensando que tudo daria errado”, comentou um usuário em tom de alívio — e esse resumo de sentimento ganhou tração entre compartilhamentos e comentários.

Além do espetáculo em si, a noite serviu como teste prático para debates maiores sobre imagem e tratamento do Norte no noticiário nacional. Enquanto reportagens sobre aumento de preços e desafios logísticos são necessárias e legítimas, o episódio expôs como parte da narrativa pública pode se apoiar em estigmas e desconhecimento. A recepção à produção demonstrou que é possível realizar eventos de grande porte com identidade e capacidade técnica — ainda que isso não anule a necessidade de planejamento, transparência e medidas para conter abusos de preços e garantir infraestrutura adequada.

Tecnicamente, a operação foi também um espelho de coordenação: montagem da estrutura flutuante, segurança, acústica sobre a água e integração com transmissão mostraram que há profissionais locais e nacionais aptos a empreender produções arrojadas. Para muitos espectadores, inclusive, a cantora norte-americana parecia à vontade — houve relatos de que Mariah esteve simpática e atenciosa com fãs, e que sua performance em Belém soou mais solta do que em outras paradas do circuito nacional.

O formato do palco — vitória-régia — não foi apenas escolha estética; foi declaração. Ao trazer a flor símbolo da região para o centro do espetáculo, a produção reforçou uma narrativa de apropriação cultural positiva: cenografia, repertório e presença local se combinaram para mostrar como a região pode exportar imagens e modos de fazer que dialogam com palcos internacionais. Em termos culturais, a noite reforça a capacidade de Belém de se reposicionar: não apenas como um “lugar que recebe eventos”, mas como criador de experiências com identidade.

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