Em contagem regressiva para celebrar seus 160 anos, o Museu Paraense Emílio Goeldi vive um dos momentos mais marcantes de sua história. As sedes do parque zoobotânico, em São Brás, e do campus de pesquisa, na Terra Firme, estão passando por uma transformação inédita: suas fachadas estão sendo convertidas em galerias de arte urbana a céu aberto, com 19 murais autorais inspirados na sociobiodiversidade da Amazônia.
A iniciativa, realizada em parceria com o Museu de Arte Urbana de Belém (Maub), é resultado de um edital público que selecionou artistas do Pará e de outros estados brasileiros. O objetivo é aproximar ciência e arte, democratizar o conhecimento produzido ao longo de quase dois séculos e dar nova vida às estruturas da instituição científica mais antiga da Amazônia.
“Queremos promover a interrelação entre ciência, cultura, arte urbana e educação. A arte nos muros é uma forma de mostrar que o Museu Goeldi está preparado para seguir relevante no século XXI”, afirma o diretor da instituição, Nilson Gabas Júnior.
Interação com a cidade e valorização da cultura amazônica
O projeto desperta a curiosidade de quem passa pelas sedes do museu e mudou a rotina da vizinhança. “Mudou totalmente a paisagem. Está lindo e dá mais ânimo até para caminhar, vendo nossa cultura retratada ali”, diz Laurinda da Silva, moradora da região.
Os artistas exploram temas ligados à fauna, flora, imaginários populares e à diversidade dos povos amazônicos. “Trouxe elementos da arara, da onça e da jiboia, dialogando com a ideia de encantaria e respeito à floresta”, explica o muralista Francisco Ribeiro, do Amapá.
Patrimônio histórico e ciência conectados
Antes de chegar aos muros, o projeto passou por etapas criteriosas, incluindo consultas ao Iphan e ao Departamento de Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural (Dphac), além da elaboração de acordos técnicos e captação de recursos. Como patrimônio tombado, qualquer intervenção nas estruturas do Museu Goeldi precisa seguir normas rígidas de preservação.
A ação marca também o aniversário de 130 anos do Parque Zoobotânico, celebrado em agosto. Já no dia 28 de setembro, a conclusão dos murais será comemorada com atividades gratuitas na Avenida Magalhães Barata, a partir das 9h.
“O Maub nasceu para transformar Belém em uma galeria a céu aberto. Essa edição especial no Goeldi reforça esse propósito e cria um diálogo único entre ciência, cultura e comunidade”, destaca Gibson Massoud, idealizador do projeto.
Realizado pela Sonique Produções e Oito Quatro Produções, o projeto tem patrocínio da Vale, por meio da Lei Rouanet, e apoio do Ministério da Cultura. O Parque Zoobotânico segue fechado até 3 de outubro, quando será reaberto ao público com parte da estrutura revitalizada.