Em um momento de transição jurídica e administrativa crucial para Canaã dos Carajás, a indicação do vereador Cleido Braz para a construção de um chafariz não é apenas um gesto equivocado; é uma demonstração de desconexão com a realidade e uma afronta à inteligência da população. Enquanto a cidade se prepara para a chegada da Aegea e a privatização de seu sistema de água, a proposta do vereador se torna um símbolo da sua lista de polêmicas e da falta de entendimento sobre as prioridades.
A Concorrência Pública nº 002/2024, vencida pela Aegea, incluiu Canaã dos Carajás no Bloco D, encerrando a era do SAAE como autarquia municipal. A partir de agora, a gestão do saneamento, incluindo a busca por soluções para a crise hídrica, passa a ser responsabilidade de uma empresa privada, com um contrato de 40 anos e a promessa de universalização. O SAAE, que já sofria com a crise de abastecimento e com a baixa eficiência de poços artesianos, agora será substituído por um modelo de gestão que se baseia em critérios econômicos e metas de investimento.
Nesse contexto, a indicação de um chafariz, em meio à iminente seca e ao colapso do lençol freático local, é juridicamente e administrativamente insustentável. A gestão da água não é mais uma atribuição exclusiva da prefeitura e, portanto, uma indicação do Legislativo para uma obra desse tipo se mostra descabida. Além disso, a lei nº 14.026/2020, o Novo Marco Legal do Saneamento Básico, visa justamente a atração de investimentos privados para solucionar problemas crônicos como a falta de água e a ausência de esgoto tratado.
A proposta de Cleido Braz ignora todos esses fatos. Em vez de focar na fiscalização da nova concessão, na garantia de que a população será atendida e de que a Aegea cumprirá as metas de investimento, o vereador opta por uma medida populista e superficial. A crise hídrica em Canaã não é um problema estético que se resolve com uma fonte ornamental; é um problema de engenharia, de planejamento e de gestão, que exige soluções robustas.
As polêmicas que marcam a atuação do vereador, somadas a esta proposta, reforçam a percepção de uma atuação política desconectada do bem comum. Enquanto a população sofre com a falta de água, com o aumento do fluxo migratório e com a ameaça de um futuro distópico, a resposta de uma parcela do Legislativo é um chafariz. Canaã merece um debate sério, com soluções reais e com representantes que entendam a complexidade do momento em que a cidade se encontra.
A privatização do saneamento pode ser a solução para a falta de água em Canaã, mas apenas se houver uma fiscalização séria e um debate público honesto. O chafariz de Cleido Braz, além de ineficaz, é um ruído em um momento que exige clareza e responsabilidade.