O consumo de bebidas alcoólicas adulteradas com metanol (álcool metílico) voltou a causar mortes e internações no Brasil. Nos últimos dias, ao menos três pessoas morreram no estado de São Paulo após ingerirem bebidas contaminadas, segundo informações divulgadas por órgãos de saúde e confirmadas por veículos como Agência Brasil e CNN Brasil. Outros casos estão sendo investigados.
De acordo com o Centro de Vigilância Sanitária paulista, já foram identificados seis casos confirmados de intoxicação e dezenas de garrafas suspeitas foram apreendidas em bares durante operações policiais. Só nas últimas semanas, 117 garrafas adulteradas foram retiradas de circulação. A Secretaria da Justiça e o Ministério da Justiça emitiram alertas para que estabelecimentos intensifiquem o controle sobre a origem das bebidas comercializadas.
Embora este tipo de tragédia não seja novidade no país — São Paulo já registrou um episódio grave em 1992, com quatro mortes e mais de 160 pessoas afetadas —, especialistas alertam que a fiscalização ainda é falha e que o metanol, por ser incolor e quase sem cheiro, dificilmente é detectado pelo consumidor antes que seja tarde.
O que é o metanol e por que ele é tão perigoso
O metanol é um álcool usado em indústrias químicas, na produção de solventes e combustíveis, mas não é seguro para consumo humano. Ao ser metabolizado no fígado, forma compostos altamente tóxicos, como formaldeído e ácido fórmico, que causam acidose metabólica, danos neurológicos e falência de órgãos.
Os sintomas da intoxicação costumam aparecer entre 12 e 48 horas após a ingestão e incluem náuseas, vômitos, dor abdominal, tontura, confusão mental, dificuldade para respirar, dor de cabeça intensa e, em casos graves, perda total da visão, coma e morte. O tratamento é complexo e precisa ser iniciado rapidamente, envolvendo medicamentos que bloqueiam a metabolização do metanol, suporte clínico intensivo e, muitas vezes, hemodiálise.
Casos internacionais reforçam o risco
O problema não é exclusivo do Brasil e tem provocado tragédias em vários países nos últimos meses:
- Barranquilla (Colômbia) – Ao menos 11 pessoas morreram em setembro após consumir uma bebida artesanal chamada “cococho”, adulterada com metanol.
- Rússia – Na região de Leningrado, 19 mortes foram confirmadas este mês por suspeita de álcool contaminado.
- Turquia – Só em 2025, mais de 160 mortes foram registradas em Istambul após consumo de bebidas clandestinas com metanol.
- Laos – Em novembro de 2024, seis turistas morreram após consumir drinques adulterados em um hostel.
- Outros países, como Peru, República Dominicana e Índia, já registraram surtos com dezenas ou até centenas de vítimas nos últimos anos.
Esses episódios revelam um padrão: produtores clandestinos usam o metanol para baratear custos e aumentar o lucro, aproveitando-se de brechas na fiscalização e da dificuldade do consumidor em identificar o risco.
Riscos e desafios para a saúde pública
Segundo toxicologistas, surtos de metanol têm alta taxa de mortalidade — chegando a 50% em alguns locais — e muitos sobreviventes ficam com sequelas irreversíveis, especialmente cegueira permanente. Além disso, os casos sobrecarregam hospitais, que precisam oferecer suporte intensivo e diálise, e as investigações enfrentam obstáculos para rastrear a origem da bebida adulterada.
Como se proteger
- Compre bebidas apenas em estabelecimentos confiáveis e com rótulos originais.
- Desconfie de preços muito baixos ou embalagens improvisadas.
- Procure atendimento médico imediato se apresentar sintomas como visão turva, dor de cabeça intensa, vômitos ou confusão mental após consumir álcool.
- Para profissionais de saúde, é essencial considerar intoxicação por metanol em casos de pacientes com quadro de intoxicação alcoólica atípica.
Um problema que exige ação urgente
O aumento de casos em São Paulo e as tragédias recentes em países como Colômbia e Turquia mostram que a adulteração de bebidas com metanol é uma ameaça global. Especialistas defendem mais fiscalização, campanhas educativas e penas severas para produtores e comerciantes que colocam vidas em risco.
Enquanto isso, o alerta para os consumidores é claro: não arrisque sua saúde comprando bebidas de procedência duvidosa. O barato pode custar a vida.