Teleconsultas levam saúde a comunidades ribeirinhas de Breves, no Marajó, com uso de ‘maletas inteligentes’

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As teleconsultas são conduzidas por estudantes do internato de uma faculdade particular de São Paulo, sob supervisão de professores. O projeto tem beneficiado as famílias pelo programa Rede+, fornecendo assistência médica qualificada a territórios de difícil acesso.

Segundo o Instituto Mondó, envolvido no projeto, as teleconsultas são realizadas com apoio técnico local e com o uso de "maletas inteligentes". Os equipamentos foram criados para funcionar mesmo em locais sem internet e permitem a realização de até 15 exames, como eletrocardiograma, aferição de pressão, dermatoscopia, entre outros.

A partir dos exames é possível identificar casos e encaminhar pacientes para consultas médicas online.

No início do estágio os estudantes são introduzidos ao contexto do projeto. Conhecem a realidade local, aprendem sobre a prática da teleconsulta e discutem as diferenças culturais entre São Paulo e Breves. Os atendimentos são feitos em grupo, com pausas para avaliação conjunta dos casos, solicitação de exames e definição de condutas.

Entre os principais quadros clínicos observados estão dores de cabeça, nas costas, distúrbios do sono, sintomas de tristeza e ansiedade, além de hipertensão, diabetes e problemas dermatológicos.

Segundo a médica de família, professora e coordenadora de atenção primária, Juliana Nobre, "também surgem demandas específicas por ser uma região de floresta, com alta vulnerabilidade social".

Morador da zona rural de Breves, o jovem Nikson Martins, de 21 anos, é um dos beneficiários do projeto. Ele vive com a família na roça e até pouco tempo atrás o acesso à saúde era quase inexistente.

“Antes, só tinha médico no posto. Mas era difícil ir até a cidade, longe, com pouca estrutura. Quando o pessoal do Mondó foi lá explicar como funcionava o atendimento por vídeo, a gente achou interessante. Deu certo”, relatou.

Um dos casos acompanhados foi o do pai de Nikson, que sofre de hipertensão e problemas cardíacos. Após receber orientações médicas durante a teleconsulta, passou a cuidar melhor da saúde e apresentou melhoras significativas. “Foi um alívio. A gente se sentiu mais seguro. Era algo que parecia distante demais da nossa realidade", disse Nikson.

Formação diante da realidade

Por outro lado, a vivência tem sido mais do que um estágio curricular, mas tem provocado uma transformação na formação dos alunos, que aprendem a adaptar condutas à realidade do território e desenvolvem habilidades de comunicação, empatia e flexibilidade.

“Projetos como este agregam um valor imensurável à formação dos estudantes. Eles rompem barreiras culturais e se tornam profissionais mais completos”, avalia Juliana.

Edelita Matiuci, estudante do 11º período de medicina, disse que a experiência foi profundamente gratificante e desafiadora. “O que mais me impactou foi a receptividade das pessoas, tão dispostas a buscar ajuda e compartilhar suas dores. Entendi, na prática, o poder da escuta, da empatia e do cuidado, mesmo a quilômetros de distância”, disse.

O impacto do projeto já começa a gerar desdobramentos, como o projeto de duas alunas de medicina que sugeriram a criação de uma nova frente de atuação voltada às questões dermatológicas, uma das demandas mais frequentes identificadas.

A proposta inclui a produção de vídeos educativos sobre cuidados com a pele, prevenção e tratamento, com linguagem acessível à população de Breves.

Três estudantes viajaram até a comunidade, de forma voluntária, durante o período de férias. Outros já demonstraram interesse em seguir o mesmo caminho.

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