Durante discurso na 80ª Assembleia Geral das Nações Unidas, realizada nesta terça-feira (23) em Nova York, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que teve uma “química excelente” com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo ele, os dois conversaram rapidamente nos bastidores do evento e devem se reunir novamente na próxima semana.
“Nós não tivemos muito tempo para falar aqui, foram tipo 20 segundos, mas conversamos, tivemos uma boa conversa e combinamos de nos encontrar na semana que vem, se for do seu interesse. Ele parecia um homem muito legal, na verdade, ele gostava de mim, eu gostava dele. E eu só faço negócios com pessoas de quem gosto”, disse Trump.
O republicano destacou ainda que chegou a abraçar Lula nos corredores da ONU e reforçou que a sintonia foi um bom presságio: “Tivemos ali uma química excelente e isso foi um bom sinal”.
Tarifas e críticas ao Brasil
Apesar do tom amistoso em relação a Lula, Trump endureceu as críticas ao Brasil ao tratar das tarifas impostas pelos Estados Unidos. Ele lembrou que, “no passado”, o Brasil aplicou taxas consideradas injustas contra os norte-americanos, o que levou Washington a retaliar com uma sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros.
“Estamos revidando, e revidando com muita força”, declarou Trump, ao defender a medida. Ele também afirmou que o Brasil “só consegue se sair bem quando trabalha em parceria com os Estados Unidos” e disse que, sem esse apoio, o país “fracassará, assim como outros já fracassaram”.
A sobretaxa anunciada atinge 9.777 códigos da NCM (Nomenclatura Comum do Mercosul), e o governo brasileiro já publicou uma tabela para orientar os setores impactados. Como resposta, o Planalto lançou o Plano Brasil Soberano, que prevê R$ 30 bilhões do Fundo Garantidor de Exportações (FGE) e outros R$ 10 bilhões em crédito subsidiado do BNDES, com juros abaixo do mercado, para empresas afetadas.
Discurso de Lula
Em seu pronunciamento, que durou cerca de 15 minutos, Lula respondeu às críticas e saiu em defesa da democracia brasileira. Ele classificou como “inaceitável” a ingerência de outros países sobre o Poder Judiciário e mencionou diretamente as sanções impostas pelos Estados Unidos contra autoridades e familiares de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
“A agressão contra a independência do Poder Judiciário é inaceitável. Essa ingerência em assuntos internos conta com o auxílio de uma extrema-direita subserviente e saudosa de antigas hegemonias. Falsos patriotas arquitetam e promovem publicamente ações contra o Brasil. Não há pacificação com impunidade”, afirmou o presidente.
Lula também mencionou a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro, que recebeu pena de 27 anos e 3 meses de prisão por participação em tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. O caso, segundo o brasileiro, mostrou ao mundo que o país não negocia democracia nem soberania.
“Há poucos dias, e pela primeira vez em 525 anos de nossa história, um ex-chefe de Estado foi condenado por atentar contra o Estado Democrático de Direito. Foi investigado, indiciado, julgado e responsabilizado pelos seus atos em um processo minucioso. Teve amplo direito de defesa, prerrogativa que as ditaduras negam às suas vítimas”, disse Lula.
Diante da plateia internacional, o presidente concluiu: “O Brasil deu um recado a todos os candidatos a autocratas e àqueles que os apoiam: nossa democracia e nossa soberania são inegociáveis. Seguiremos como nação independente e como povo livre de qualquer tipo de tutela. Democracias sólidas vão além do ritual eleitoral”.