Quase três décadas após surgir no underground paulistano, o Critical Mass retorna com força total em The Feast, um EP que resgata e atualiza composições criadas entre 1990 e 1994. Formada inicialmente em 1989 sob o nome Sarcastik, a banda logo passou a se chamar Critical Mass, inspirada pelo Nuclear Assault, trazendo consigo influências marcantes de Metallica, Testament, Death Angel e Forbidden, entre outros medalhões da Bay Area. Desde cedo, destacou-se por um Thrash Metal técnico e ousado, destoando do que predominava na cena da época. No entanto, esse material permaneceu engavetado, já que seus membros seguiram para outros projetos como Scars, Chaosfear, Chasing Fear e Goatlove. Então sim, estamos falando de uma ‘estreia’ de um monstro adormecido desde o final dos anos 80 e início dos 90.
Agora, em 2025, o produtor e guitarrista Marco Nunes (Chaosfear, Chasing Fear, Goatlove), ao lado de Eduardo Boccomino (Damage Inc, Chasing Fear, Chaosfear, Takken, ex-Scars), decidiu não apenas reviver esse material, mas regravá-lo com o respeito, energia renovada e a qualidade dos dias atuais, mantendo intacta a essência de riffs intensos, letras de forte teor político e reflexões existenciais que continuam tão pertinentes quanto há três décadas, porém com a produção e mixagem dos dias atuais: leia-se PORRADA!
Completando a formação, estão Altair Souza (vocal), Anderson de França (baixo, Chaosfear, Chasing Fear) e Mozart Souza (bateria) – todos integrantes da formação original da Critical Mass. O resultado, potencializado por uma produção e mixagem de alto nível, é um verdadeiro choque de forças, soando como um cruzamento bem lapidado das referências citadas no início, com destaque para a influência maior de Forbidden, Testament, Exodus e Anthrax.
As guitarras entregam uma avalanche de riffs no melhor estilo downpicking de Eric Peterson (Testament), Gary Holt (Exodus) e Craig Locicero (Forbidden), transbordando energia e atitude tipicamente thrasher – daqueles que remetem imediatamente a Le Cheval, boné surrado e colete cheio de patches (risos). Já os vocais de Altair transitam entre a potência de Russ Anderson (Forbidden) e Joey Belladonna (Anthrax), com o efeito “montanha-russa desgovernada” de Sean Killian (Vio-lence), casando perfeitamente com a sonoridade caótica e cheia de rifferama do Critical Mass.
Tudo foi milimetricamente trabalhado para que cada camada e instrumento pudesse ser ouvido com clareza, sem nunca soar embolado. Muito pelo contrário: a produção entrega uma mixagem precisa, que permite ao ouvinte mergulhar nos detalhes e destacar cada elemento separadamente a cada nova audição, tamanha a nitidez e equilíbrio do som. E claro, com muito, mas muito ‘headbanging’. Ah meus caros, aqui seus pescoços vão doer pra cacete por dias!
São cinco faixas que carregam um convite irresistível: é impossível ouvir apenas uma vez. O espírito juvenil que embalou os dias de ouro do Thrash Metal pulsa aqui com intensidade, trazendo de volta a sensação de quando tudo era novo, urgente e visceral. Esses cinquentões conseguiram resgatar não só a sonoridade, mas também a chama que fazia a juventude vibrar diante de cada riff. Ao revisitar esse material, é como se eles mesmos voltassem no tempo, entregando um verdadeiro tributo às próprias histórias. E, se essa era a premissa do lançamento, só nos resta aplaudir de pé e nos transportar para onde eles querem nos levar a cada audição. Eu, também na beirada do cinquentão, ainda não saí de lá, tá? (risos)
“Hold Your Time” abre a pancadaria já trazendo uma forte vibe de Forbidden com Vio-Lence, sustentada por riffs cortantes em downpicking, palhetadas precisas e uma bateria que alterna entre velocidade insana e grooves cheios de pegada, dilacerando os tímpanos logo de cara. Na sequência, “Walking Across The Bridge” começa com um riff de pegada totalmente Heavy Metal, quase com ares de NWOBHM, e rapidamente se transforma em um thrash feroz, unindo a energia crua do Anthrax com a agressividade do Exodus. Destaque para as linhas de baixo, que ganham espaço na mixagem, e para os solos cheios de melodia e técnica, que fogem do lugar-comum.
É impossível não traçar paralelos com os medalhões do estilo, mas uma coisa precisa ser dita: se você escutar pensando em cópia, está ouvindo errado. O que o Critical Mass entrega aqui não é reprodução, mas sim um tributo vigoroso ao que sempre foi bom demais – reinterpretado com frescor, maturidade e uma produção impecável. “Why Are You Living” é thrash na sua forma mais pura! Violenta, brutal e veloz, mas recheada de melodias que grudam na cabeça, fazendo você cantar e não resistir a tocar air guitar junto. Sabe aquela faixa que te dá vontade de pular direto para o meio da roda no show e se preocupar com o pós-traumático depois? Pois é… essa é exatamente assim (risos).
“To Be Lost” por toda sua estrutura você vai notar claramente referências e influências de Metallica, como se o “Kill’Em All” ou o “Ride The Lightning” tivessem sido gravado pelo Forbidden de “Twisted Into Form”. O negócio é incrível. “Drifting Ship”, faixa que fecha o EP, já vai mais para o lado do Exodus, o que te dá vontade de bater até na mãe! E depois disso, escutar novamente no ‘repeat’ (risos). Vale ainda um destaque para a belíssima e bem-humorada arte de capa de Caio Boracini, que remete diretamente aos bons tempos de Brasil, do Ratos de Porão – de uma época em que pudor era apenas uma palavra bonita no dicionário.
Agora, resta torcer para que a banda não se limite a este primeiro EP. Com categoria, qualidade e bom gosto musical de sobra, eles têm todas as ferramentas para entregar mais trabalhos no futuro que sejam também impecáveis, relevantes — e, possivelmente, memoráveis para os fãs de metal.Colunas portáteis. Faça um favor a si mesmo: aperte o play, aumente o volume ao máximo, desligue as preocupações e toque o foda-se para quem estiver por perto! É diversão, nostalgia, energia, peso… é thrash metal de primeiro mundo pra um C-A-R-A-L-H-O!