Um estudo conduzido pelo professor Robert Dudley, da Universidade da Califórnia, Berkeley, reacendeu o debate sobre a relação dos primatas com o álcool. A pesquisa mostra que chimpanzés ingerem, em média, o equivalente a uma lata de cerveja por dia, a partir de frutas naturalmente fermentadas em seu habitat. O dado reforça a hipótese já defendida por Dudley no livro O Macaco Bêbado (2014), de que a atração humana pelo álcool tem raízes evolutivas. “Em todos os locais, chimpanzés machos e fêmeas consomem cerca de 14 gramas de etanol puro por dia em sua dieta, o que equivale a uma dose padrão americana”, explicou o pesquisador Aleksey Maro, coautor do estudo.
Os cientistas analisaram frutas coletadas em duas regiões habitadas por chimpanzés: Ngogo, em Uganda, e Taï, na Costa do Marfim, e encontraram teor alcoólico médio de 0,26% em peso. Como esses primatas consomem cerca de 4,5 kg de frutas diariamente, a taxa de ingestão de etanol se aproxima de duas doses padrão quando ajustada ao peso corporal, já que um chimpanzé adulto pesa em torno de 40 kg. “Se eles preferirem frutas mais maduras e ricas em açúcar, esse número pode ser ainda maior”, observou Dudley. O consumo, portanto, é comparável a uma lata de cerveja (350 mL a 5%), uma taça de vinho (150 mL a 12%) ou uma dose de cachaça (40 mL a 40%).
A pesquisa também sugere que a busca pelo álcool não é um comportamento aleatório. O odor do etanol serviria como guia para localizar frutos mais açucarados, garantindo maior retorno energético e até fortalecendo laços sociais entre os animais. “O consumo de etanol não se limita aos primatas”, destacou Dudley. “É característico de animais frugívoros e, em alguns casos, de espécies que se alimentam de néctar”. Para o pesquisador, compreender esse padrão é mais do que curiosidade científica: pode oferecer pistas sobre as origens da relação do ser humano com o álcool. “Isso apenas aponta para a necessidade de financiamento federal adicional para pesquisas sobre atração e abuso de álcool por humanos modernos. Provavelmente tem uma profunda história evolutiva”, concluiu.